Portanto, o pressuposto para ir aos pobres é ir aos pobres. Chegou? Não? O pressuposto para ter uma relação real, não aparente e sentimental com os empobrecidos é ir aos empobrecidos. É essa relação que poderá vir a quebrar o coração petrificado e transmutá-lo em pura compaixão, compaixão ativa.
Impõe-se, no entanto, uma questão: o que é compaixão? Muitos a confundem com ter dó, pena, comoção. Liga-se compaixão a pura emoção, ou ao sentimentalismo como se fora um fim em si mesmo.
As emoções, o sentimentalismos estão na moda tanto nas religiões quanto na mídia, porém esse modismo não se mostra capaz de provocar as pessoas e a sociedade a voltar a sua atenção para os seus filhos mais sofridos. Faz até o contrário, pois quem vive cheio de pseudo emoções e sentimentalismos em relação ao sofrimento alheio, afinal “são tantas emoções”, finda por ter a convicção de que esse é um sinal da sua santidade e bondade fazendo-lhe cego e passivo diante das injustiças que os cercam. Sofrer e chorar pela dor do outro sem tomá-la para si a fim de tomar uma atitude, pouco ou nada vale.
Não eram sentimentalismos e emoções que moviam Jesus em direção aos pobres e oprimidos. Em verdade, não há em nossa língua palavra que possa exprimir esse apelo chamado compaixão que impulsionava Jesus aos pobres. A palavra compaixão é insuficiente para tanto. A. Nolan, em sua obra “Jesus antes do Cristianismo”, assevera o verbo grego, usado nos textos dos Evangelhos, traduzido por compaixão em nossa língua, significa “movimento ou impulso que brota das próprias entranhas”.
Portanto diante da dor e do sofrimento dos pobres e oprimidos, Jesus era tomado por um grito, por um apelo irresistível que lhe vinha das entranhas, das profundezas do ser e lhe obrigava a agir, ceder, render-se, ou tomar posição ante as súplicas dos oprimidos, ou diante dos que os injustiçavam. Sua compaixão era ativa, não parava nas lágrimas e nas emoções.
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